quinta-feira, 31 de março de 2011

Teoria do conhecimento

Teoria do Conhecimento

A Filosofia é um propósito do espírito humano para chegar a uma concepção do Universo mediante a autoreflexão sobre suas funções valorativas teóricas e práticas. Ela é uma percepção racional do Universo, é uma busca dos seus princípios e suas causas. Ela visa a moral, a arte, a ciência, a religião.

Embora a Religião pretenda o conhecimento total do Universo, a sua forma de enfoque é bem diversa da Filosofia, posto que a religião pretende este conhecimento pela fé, pela revelação, ao passo que a Filosofia o pretende pela razão.

O estudo filosófico pode ser encarado ou dividido pelas teorias seguintes:

1) Teoria da Ciência - conduta teórica do conhecimento científico.

2) Teoria dos Valores - da conduta prática. Os valores éticos, religiosos e estéticos.

3) Teoria da concepção do Universo.

O que vai nos interessar é a Teoria da Ciência, que podemos dividir em Formal e Material.

Formal é a Lógica, a correção formal do pensamento, a concordância dele consigo mesmo, responderia à pergunta: "É o pensamento correto?"

Material é a Teoria do Conhecimento. Também chamada de Epistemologia ou Gnoseologia. Procura ver a certeza do conhecimento. Responde às perguntas "Existe concordância do pensamento com o seu objeto? Até que ponto o Sujeito apreende o Objeto? É o pensamento verdadeiro?"

A Teoria do Conhecimento só aparece de forma autônoma a partir de John Locke, e, podemos dizer que chega ao seu ápice com Kant, com sua obra "Crítica da Razão Pura".

Mas, afinal o que é o Conhecimento?

Podemos encará-lo por um prisma psicológico, que investiga o processo psíquico do conhecimento. Se o observarmos pelo método fenomenológico, que estuda o fenômeno do conhecimento, vamos ver a essência desse fenômeno, a relação dual entre o Sujeito cognoscente e o Objeto conhecido em si, e a imagem do Objeto que chega ao Sujeito.

Se observarmos o Conhecimento apenas do ponto de vista do Sujeito cairemos no chamado Psicologismo, nos restringimos ao fenômeno apenas quanto ao processo psicológico.

A imagem do Objeto deve retratar verdadeiramente o Objeto. Qual a concordância existente entre o Objeto e sua imagem? Se nos apegarmos apenas a este prisma teremos o que chamaríamos de Logicismo.

Por outro lado se nos restringirmos apenas a explicar o fenômeno do conhecimento pelo estudo do Objeto, encontrando nele toda a explicação do mesmo, cairemos no Ontologismo, exagero na interpretação do ser fora do Sujeito cognoscente.

Vemos, portanto, que nem a psicologia, nem a lógica, nem a ontologia explicam sozinhos o fenômeno do conhecimento.

Ele deve, pois, ser visto por uma explicação filosófica, a esta teoria alguns deram o nome de Gnoseologia, Epistemologia, ou ainda, Teoria do Conhecimento.

Para fazermos o seu estudo, tentaremos responder a cinco perguntas fundamentais:

1.- Pode o Sujeito apreender realmente o Objeto? Qual a possibilidade do Conhecimento?

2.- O homem sendo um ser intelectual ou espiritual e ao mesmo tempo um ser sensível, de um lado a razão e do outro o experimento, qual deles é a fonte? Qual a origem do Conhecimento?

3.- Havendo a relação entre o Sujeito e o Objeto, quem determina a relação, o Sujeito ou o Objeto? Qual é a essência do conhecimento?

4.- O Sujeito apreende apenas o Objeto pela razão, pela dedução? A intuição, o conhecimento intuitivo existe? Quais são, pois, as formas do Conhecimento?

5.- E, finalmente, um último problema: há um Conhecimento verdadeiro? Como distinguir o Conhecimento falso do verdadeiro? Qual o critério para determinar a separação entre o falso e o verdadeiro? Qual o critério do Conhecimento?

Neste trabalho nos restringiremos a discutir a primeira pergunta: É possível o Conhecimento? Existe efetivamente a Possibilidade do Conhecimento? Este tema é importantíssimo para as posições filosóficas do Rito Moderno, razão porque nos ateremos a ela.

Várias são as doutrinas existentes.

Vejamos primeiro o DOGMATISMO.

A palavra dogma, na Grécia, começou a ser usada como doutrina fixada, como decreto, como opinião aceita.

Atualmente, emprega-se o termo no sentido de afirmação sem justificativa lógica, fundada em autoridade civil, cultural, científica, militar ou religiosa.

O dogmatismo afirma que o Conhecimento é possível, posto que existe o contato real entre o Sujeito e o Objeto, e este contato torna o Conhecimento como exato, como verdadeiro. Não há dúvidas quanto a possibilidade do Conhecimento.
A primeira posição do homem, histórica e psicologicamente, é dogmática, é o homem ingênuo, é a criança. Tudo que o homem vê, sente e pensa é verdadeiro.

O problema estudado pela Epistemologia não existe para o dogmático, e que como problema filosófico só vai aparecer com os Sofistas.

Como teoria oposta ao dogmatismo temos o CEPTICISMO OU CETICISMO, quando afirma a impossibilidade do Conhecimento, para ele não há o contato real entre o Sujeito e o Objeto, o Sujeito não tem condições de apreender o Objeto.

Deste modo, o céptico defende que o homem deve se abster de todo o julgamento, pois não há juízo verdadeiro. Esta posição tem origem com Pirron de Elis, é chamada de cepticismo radical, geral ou universal.

Contudo o cepticismo absoluto se contradiz, pois no momento em que afirma a impossibilidade do Conhecimento, expressa um juízo, emite um julgamento, ora, diz conhecer.

O cepticismo pode ser no entanto parcial, atingindo apenas um campo do Conhecimento humano, podendo ser ético (como o de Montaigne), pode ser teórico, sendo metafísico(como o positivismo de Augusto Comte), religioso (como o agnosticismo de Herbert Spencer), pode ser metódico (como a dúvida de Descartes).

É também intitulado de cepticismo acadêmico, a doutrina chamada de probabilismo, pregada por Arcesilao e Carneades, que afirma não ser possível o conhecimento total, verdadeiro, em qualquer campo do Conhecimento, posto que nunca podemos ter certeza, mas sim que parece ser, que é provável.

Ainda, dentro do âmbito do cepticismo, não chegando aos seus extremos, estão o subjetivismo e o relativismo.

Defende o subjetivismo, numa posição psicologista, que o "o homem é a medida de todas as coisas". Só há verdades para um sujeito, tanto como indivíduo como para o sujeito geral, o gênero humano.

Por sua vez, afirma o relativismo que nosso conhecimento só é verdadeiro em relação a nós, só é possível o Conhecimento dentro das nossas limitações, inclusive as externas, não se restringindo ao psicologismo do subjetivismo. A nossa possibilidade de conhecimento é relativa a influência do meio em que vivemos, do ambiente cultural em que vivemos. Uma paisagem vista a olho nu ou por intermédio de um binóculo são duas verdades diferentes.

 O subjetivismo teve sua primeira posição histórica com os Sofistas, e o relativismo como teoria com Pitágoras.

Modernamente vamos encontrar o relativismo com Osvaldo Spengler.Uma posição moderna de cepticismo vamos constatar no pragmatismo de William James. Para os pragmáticos não é possível haver concordância entre o sujeito e o objeto, este conceito de verdade é inválido. Só é verdadeiro o que é útil, o que é prático, pois o ser humano é um ser prático por excelência, um ser de ação. Só é verdade o que aproveita à vida. O pensamento não existe para se conhecer a verdade, e sim para orientar o homem na sua realidade prática. Efetivamente tal teoria nega a esfera da lógica, não reconhece a autonomia do pensamento.

Finalmente, uma posição que pretende ser a síntese entre a tese dogmática e a antítese céptica. Chama-se Criticismo.

O Criticismo, de um lado aceita a possibilidade do conhecimento, está convencido de que há uma verdade, por outro lado desconfia de todo conhecimento determinado. Sua posição não é dogmática, nem céptica, mas sim reflexiva e crítica. Estaria entre a temeridade dogmática e o desespero céptico.

Esta posição crítica já vemos delineada em Platão, em Aristóteles, nos estóicos, mais recentemente em Descartes e Leibnitz, mais ainda em Locke e Hume. Mas aquele que é considerado o verdadeiro fundador do Criticismo é Emanuel Kant.

O Criticismo é "aquele método de filosofar que consiste em investigar as fontes das próprias afirmações e objeções e as razões em que as mesmas se baseiam, método da esperança de se chegar a certeza."

É evidente que quando se pretende ter uma Teoria do Conhecimento, admite-se "a priori" a possibilidade desse conhecimento, por menor que seja. O que se pretende quando se estuda a Teoria do Conhecimento é pesquisar seus pressupostos, suas condições, um exame crítico dos fundamentos do conhecimento humano.

Eis porque atingindo o homem a idade adulta da razão não pode aceitar teses dogmáticas, eis porque o Rito Moderno se afirma como adogmático. Para o Rito Moderno o homem não é mais a criança de seus primórdios históricos, não é mais o homem primitivo que aceitava verdades dogmáticas, baseadas no medo, na ignorância, na autoridade "ex-cathedra".

O homem é um ser livre para pensar, refletir, criticar, como afirma o princípio Maçônico da busca incessante da Verdade.

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